quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Rio de Janeiro

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009 0
Ano bom. Tornei-me menos estúpido no seu correr. Travei guerras improváveis, algumas verdadeiramente cômicas — a graça do espírito tem dessas aventuras. Sinto-me, contudo, cada vez mais em ostra, cada vez mais hermético. Cada vez mais um filme de Godard.

A infância retorna em momentos como o de agora, em que tenho de arrumar a mala, escolher peças florais, vestir zilhões de sungas para saber qual encolheu desde o último verão — sim, pois não engordamos, as roupas que encurtam. E dessas banalidades a vida vai ganhando tons dourados deliciosos.

Tão dourados que me detive ao colocar na mala o livro que estou relendo — De Profundis, de Oscar Wilde —, por considerá-lo cinzento demais, muito embora, em leitura atenta e entregue, se observe nele algo comparado aos primeiros raios de sol a perfurarem as nuvens negras de uma tempestade finda, como se a luz fosse graciosamente irremediável depois da tormenta.

"Eu tenho o direito de partilhar a Dor, e aquele que é capaz de olhar para os encantos do mundo, e partilhar a tua dor, e compreender um pouco a maravilha de ambos, está em contato direto com as coisas divinas, e chegou tão perto do segredo de Deus quanto alguém pode estar."

E quem estará? Prefiro pensar essa dúvida com os pés afundados na areia à espera de uma batida de limão, enquanto olho para o céu e, reparando Deus em tudo, agradeço apenas por não estar chovendo.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Paradoxal

sábado, 26 de dezembro de 2009 0
No piloto automático, sem grandes alturas ou rasantes forçados. Plano pelos amores como uma folha desgarrada de sua copa a flutuar em balé noturno.

Constato minha geração murchando em flor jovem. Ou o pior da minha geração. Não sei, de fato, se hoje conheço os que me serão companhia na maturidade, pois há sementes que demoram, e flores que se colhem tardias para uma primavera maior. Talvez, hoje, me relacione com as pessoas erradas seduzido por um perfume vulgar, volátil como os maus perfumes. Tudo porque a juventude é indecente demais, e maravilhosa demais, para ser devidamente pensada. Aborrece-me a ideia de pensá-la demais, ou do mesmo modo não vivê-la demais.

Sou um nerd que a genética não puniu, e em cujas veias correm a esperteza das ruas, a habilidade do baile de máscaras e a extrema educação sentimental. E por educação sentimental entende-se um instinto imponderável de autopreservação, ou preservação dos nervos e do pleno juízo. Sinto-me covarde às vezes, mas a consciência é uma alegria. E a renúncia, uma Arte.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Orfeu

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009 0
Orfeu resgatou Eurídice da morada dos mortos. Menos mitológica, porém, é a nossa empreitada. Vivemos a ressuscitar nosso cotidiano de miséria com algum artefato mais sublime. Mas os tempos de hoje não captam o sublime. Antes, desmerecem-mo. Tacham de esquisitos os que porventura dele bebem. Impenetráveis, arrogantes, dissimulados, fracassados. Se vivem então de forma ostensiva e franca, tratam de queimar-lhes a reputação, pois uma vida de realização de desejos desafia — e subjuga — as vidinhas pautadas pela contenção das vontades — ou pela hipocrisia que prega que um caráter é tão mais louvável quanto for a discrição ou dissimulação de seu portador. Afinal, um fama não conhecida nunca será uma má-fama.

E eis que a mediocridade varre os corações. Da morada dos mortos, apaixonam-se por carros, por rendas e contatos, por uma genética desejável. Desprezam a verdade, o ímpeto, a imperfeição inquietante. E de pouco adianta bancar o Orfeu e tentar tirar viva alma daquela morada. Preferem envelhecer mal, necessitar de ansiolíticos e dizer que o mundo é dos sortudos e dos espertos — mesmo sem ser um coisa nem outra e ter de se encostar em alguém para sentir-se incluído em tal mundo.

Como insuflar vida em um corpo que vive morto dia a dia? Como explicar que iremos nos arrepender dos nossos juízos mesquinhos quando formos nos deparar com a verdade inescapável? A saber, vamos todos morrer, mas nem todos terão sentido (em) alguma coisa.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Assim caminha a humanidade

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009 0

Liz Taylor
 
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