sábado, 28 de novembro de 2009

Zoológico de Vidro

sábado, 28 de novembro de 2009
Nossas expectativas em relação a algumas pessoas não se restringem às estabelecidas mediante contrato, ou mesmo por verbalização formalizada. Há destas que simplesmente existem, concordem ou não, e tememos por elas no mesmo grau em que esperamos que as respeitem.

Depois de dois anos, exatos dois anos, me vem à mente a mesma metáfora posta por um moleque sonhador. Agora, autor dela, enxergo seu sentido especular que à época me foi embaçado por algum tipo de sentimento torpe. A saber, em palavras mais dignas que as dele:

A cada afeto concebemos um cristal. Pode haver casos de tormentas avassaladoras que nada lhe fazem senão sacudir sua estrutura, restando íntegra sua transparência. Há casos, porém, de leves brisas — sopradas de não sei que montanha do mundo por um não sei qual deus traquinas — que provocam ao cristal um dano irreparável.

Pois bem. Tenhamos ou não um compromisso estabelecido, o cristal é gerado assim que permitimos nos afetar por alguém, como em Zoológico de Vidro, de Tennessee Williams — e não por acaso saí chorando dessa peça. Tenhamos ou não um compromisso selado, somente nós, e ninguém mais, sabemos o quanto nosso cristal é ao mesmo tempo resistente e delicado — qualidades estas variáveis de afeto a afeto — e o que esperamos de cada um.

Mas sobre a delicadeza o homem é pouco versado. Por isso há tantos cristais trincados por aí. Tanta gente esforçando-se inutilmente, e nisso enxergando exemplo de maturidade, em restituir ao vidro rachado sua integridade lisa e pura, quando na verdade estão rumando aos cacos. E tantos outros, e estes são os piores por serem profundamente estúpidos, usando da delicadeza alheia para jogos de pingue-pongue.

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