domingo, 6 de junho de 2010

No tempo que for...

domingo, 6 de junho de 2010
Dizer muito é dizer com os espaços em branco.

É fazer notar tua presença pela falta que tu fazes.

Tua lembrança pelo esquecimento dos que vieram depois de ti.

É fazer notar teu verso pela ausência brusca de rima.

Tua música pela falta de ritmo,

pelo jeito desastrado dos passos,

pela eternidade tocante das notas improvisadas.


Tenta convidar o Amor a sentar-se ao piano
e joga à sua frente uma partitura qualquer,
de um compositor qualquer.
O Amor, bobo nem nada, estalaria os dedos,
fecharia os olhos à plateia
e -- alheio à sonata dos séculos --
tocaria somente os corações...

Os conservadores o vaiarão por tamanho desrespeito
os sem-coração dirão tratar-se de um aventurado sem propósito
e os eternamente apaixonados entreolhar-se-ão suspirantes e calados
como houvessem prestigiado a manifestação repentina
de um amor acontecendo
em uma linguagem secreta.

Dizer muito é dizer para poucos.
Pois somente poucos,
dentro de si,
realizam o dito.

No tempo que for...

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