segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sobre fé e ignorância

segunda-feira, 21 de junho de 2010
Alguns nascem com uma confiança natural no mundo. Minha mãe, portanto, não achou outra coisa senão alegria quando soube que aquele adstringente comprado na farmácia saíra com três reais de desconto.

O filho, este que voz escreve, no mesmo instante pegou da sacolinha e, observando a traseira do produto, foi atentar certeiramente na data de validade deste -- janeiro de 2010 --, como já soubesse, instintivamente ou de lições dolorosas, o motivo por que desvalorizam tudo neste mundo e nesta vida: passou-se o seu tempo, oras!

Não discorro sobre esse juízo, que nos já soa tão natural e definitivo, mas digo que a mãe, entristecida e colérica, quis logo reclamar seus direitos, enquanto me detive um passo atrás, deixando-me pegar pelo próprio gênio, cuja melancolia -- percebi -- não mais se deixa levar por "pequenas cortesias", mas antes procura nelas as intenções piores. E por que enxergo algo de tão trágico nisso? Algo de tão triste? Por que não apenas reproduzir a ignorância de minha mãe e darmos mão à felicidade?

O produto foi trocado. A mãe, ainda mais alegre por ter praticado um direito do consumidor, não reparou que o filho ao lado se angustiava em uma busca muito menos secular, mas não menos dilacerante: a validade de sua própria fé.

www.youtube.com/watch?v=rpbk8GYvqqc&feature=player_embedded#!

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