terça-feira, 12 de maio de 2009

De coração e esparadrapos

terça-feira, 12 de maio de 2009
Há um quê de mágico nos momentos derradeiros! Como supor que a velha senhora que padece na cama esconde dentro de seus pulmões, ora fracos, o sopro da menina que era, e que agora a encara no espelho com seu arzinho insolente e feliz, prendendo os cabelos loiros à fita azul, enquanto os ergue displicentemente, dando volta ao pescoço, para denunciar os ombros e a pele branca.

A menina, então, preparava-se para uma festa, e o que houve nela são desses mistérios inconfessáveis. A velha também se prepara para uma, talvez menos festa e mais mistérios, mas o que há de comum em ambas é que nas duas vão a mesma excitação, o mesmo frio na barriga, a mesma certeza de que, haja o que houver, seja atrás da outra porta ou daquele outro lado da vida, ela será sempre a mesma.

Não há sentido em se falar nas duas pontas da vida quando elas se dão definitivamente as mãos, como para aprisionar ad eternum seus segredos dentro do círculo mágico que constroem.

Uma é outra, e se alguns se decepcionam ao perceber que na senhora respeitável ainda persistem desejos bobos de menina, digo-lhes, senhores, que travessuras não têm idade, apenas os preconceitos. Não tenham medo de amar um pecado, senhores! Nem acreditem demais no que chamam reputação.

O que para tantos seria motivo de desamor, para mim é só razão de amar mais.

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